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Fran Oliveira e o basquete em cadeira de rodas: um amor em construção

basquete em cadeira de rodas - cidef

Atleta que integra a equipe do Cidef/UCS fala sobre suas primeiras experiências como praticante da modalidade paralímpica

O basquete em cadeira de rodas (BCR) é um dos esportes para pessoas com deficiência mais antigos da história. A modalidade começou a ser praticada em meados do século XX, por ex-soldados norte-americanos que se feriram durante a 2ª Guerra Mundial e buscaram no esporte uma forma de reabilitação. Não à toa, o basquete em cadeira de rodas fez parte de todas as edições já realizadas dos Jogos Paralímpicos.

No Brasil, a modalidade também tem forte presença na história do movimento paralímpico: foi a primeira a ser praticada no país, a partir de 1958. A iniciativa teve início no Clube do Otimismo, no Rio de Janeiro, por meio do atleta Robson Sampaio de Almeida e do técnico Aldo Miccolis.

Basquete em cadeira de rodas caxiense

O basquete em cadeira de rodas se popularizou pelo país e também chegou a Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Há 25 anos, o Centro Integrado de Pessoas com Deficiência (Cidef/UCS) promove atividades voltadas à modalidade. Após um longo período afastada das quadras, devido à pandemia Covid-19, a equipe retornou aos treinos em maio de 2021. E com uma novidade super bacana!

Logo nas primeiras semanas de atividade, Franciele Oliveira de Oliveira passou a integrar o time caxiense de basquete em cadeira de rodas. É isso mesmo! Tem presença feminina na equipe do Cidef e, com isso, uma nova paixão em formação.

As primeiras experiências com a modalidade

Natural de Santana da Boa Vista, cidade localizada no interior do estado gaúcho, Fran se divide entre a rotina de casa, treinos e também de viagens à família.

Ela veio para Caxias em março de 2020, para morar com o marido, e desde os primeiros dias na cidade procurou por modalidades esportivas para praticar. A pandemia impossibilitou o início imediato no esporte, até que neste ano, por intermédio de um amigo e agora colega de equipe, conheceu o Cidef.

“Tocar a cadeira, tocar a bola, fazer a cesta, tudo precisa de habilidade. No início não é tão fácil, mas sinto que estou conseguindo e a cada treino venho melhorando. Os meninos estão me ajudando, então tem sido uma experiência bem bacana”, conta.

A nova integrante da equipe sabe que os treinos exigem um bom condicionamento físico, mas reconhece que não faltam empenho e persistência da sua parte. A receptividade auxiliou nesse processo. Além disso, o papel de incentivar outras mulheres e trazer mais visibilidade às pessoas com deficiência também está em jogo.

“É preciso ir atrás, colocar a cara, ir pra quadra e jogar. Lugar de mulher é onde quiser, então não tenho dúvida que a gente consegue isso e muito mais. Esporte é vida, saúde e interação. A gente tem contato com as pessoas, conhece muitas histórias e faz amizades, tanto no basquete, quanto em qualquer esporte paralímpico”.

Um alerta social

Uma pesquisa da Clínica de Lesão Medular da Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD), realizada em 2012, mostrou que acidentes de trânsito são a causa de 40% dos novos casos de paraplegia e tetraplegia no Brasil. A maioria das vítimas tem idade entre 18 e 34 anos.

Além disso, acidentes de trânsito são a terceira principal causa de mortes no mundo, ficando atrás apenas das doenças cardíacas e câncer.

A história da Fran faz parte dessa estatística. Aos 16 anos, em 25 janeiro de 2013, ela e a família estavam viajando para Cachoeira do Sul (RS), quando foram atingidos por outro veículo. A batida atingiu, principalmente, o lado direito do carro (carona). O impacto do acidente deixou a jovem paraplégica e, ainda, vitimou a própria mãe.

Fran teve uma fratura na coluna, na vértebra L4, e fragmentos de ossos atingiram sua medula óssea. Ela também quebrou o úmero esquerdo, o maxilar e teve perfurações no intestino. Foram quatro cirurgias, períodos em coma, intubação e um longo processo de recuperação para chegar até aqui. Quando sofreu o acidente, ela recém havia completado o Ensino Médio e estava prestes a iniciar o curso técnico de Enfermagem.

A lesão mudou todos os planos. Ela teve que se reinventar e, quatro meses após o acidente, foi para o SARAH, uma das principais redes de hospitais de reabilitação do Brasil. Lá, descobriu o esporte para pessoas com deficiência e uma série de outras atividades. “Foi onde eu aprendi a fazer tudo na cadeira de rodas e me tornar independente”.

De lá para cá, Fran fez um curso técnico em Administração e se mudou para Caxias. Hoje, ela mora com o marido em um espaço totalmente adaptado à sua deficiência (afinal, acessibilidade também é isso!). “Foi tudo planejado pra eu ter mais independência. Além disso, eu vim pra cá procurando melhores recursos esportivos e fisioterapia”. Ela ainda pretende voltar aos estudos, agora na área da Terapia Ocupacional.

Quando perguntada sobre a figura das pessoas com deficiência na sociedade, ela alerta: é preciso entender e respeitar essa realidade, para então desenvolvermos ideais que se afastam dos estereótipos capacitistas. “A gente está no esporte, trabalha, é dona de casa, estuda. Estamos em todos os meios da sociedade, mas não somos tão vistos, e a visibilidade é algo muito importante pra nós.”

Sobre a equipe de basquete em cadeira de rodas:

O Cidef foi criado em 1996, na cidade de Caxias do Sul (RS), com objetivo de proporcionar mais qualidade de vida às pessoas com deficiência e promover a inclusão social por meio do esporte. Desde a fundação, o Centro desenvolve ações voltadas à acessibilidade e à visibilidade do público PcD, que refletem positivamente na vida dos participantes e também na comunidade caxiense.

Equipe de basquete em cadeira de rodas realiza treinos semanais em Caxias do Sul (Foto: Karine Zanardi)

Passados 25 anos de história, o Cidef continua acreditando no seu próprio lema: superar desafios e fazer do esporte adaptado uma forma de reabilitação física e psicológica às pessoas com deficiência. Atualmente, o grupo realiza três treinos semanais, nas terças, quintas e sextas-feiras, a partir das 18h, no Centro Poliesportivo da Universidade de Caxias do Sul (UCS).

A equipe conta com apoio da SIM Rede de Postos, Lojas Havan, Pettenati, UCS, CFC Juvenil, Go Bike Shop e Equipar Veículos. Além disso, recentemente, foi contemplada com o Financiamento Municipal de Desenvolvimento do Esporte e Lazer de Caxias do Sul (Fiesporte) para o ano de 2021.

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