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Esporte para pessoas com síndrome de Down: o que precisamos saber?

esporte para crianças com síndrome de down

Benefícios físicos, sociais e psicológicos: como a prática esportiva para crianças e adultos com Down pode ser incentivada

O Brasil tem cerca de 300 mil pessoas com Síndrome de Down. O dado é do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2010 – o censo de 2022 ainda não foi finalizado. Mas para se ter ideia, no Brasil, em 2020 e 2021, foram notificados 1.978 casos de síndrome de Down detectados no nascimento.

Essa é apenas uma parcela da população do país que faz parte de um grupo ainda maior: aproximadamente, 45 milhões de brasileiros apresentam algum tipo de deficiência física, mental ou intelectual.

Vale lembrar que deficiência intelectual não é o mesmo que deficiência mental. Pessoas com síndrome de Down apresentam características cognitivas relacionadas à deficiência de funcionamento intelectual, que comumente se manifesta antes dos 18 anos, por isso a mesma é considerada uma anomalia congênita. Já as deficiências mentais são decorrentes de comprometimentos de ordem psicológica.

Usar os termos adequados ao se referir a um grupo de pessoas é sempre importante para o enfrentamento de preconceitos e estereótipos e a promoção da igualdade. Além disso, o que mais podemos fazer para que elas sejam inseridas na sociedade? Um dos principais caminhos para a inclusão é o esporte. Mas como unir atividade física e síndrome de Down?

No Dia Internacional da Síndrome de Down (21 de março), conheça mais sobre a prática esportiva para esse público e quais os benefícios da atividade física para pessoas com síndrome de Down, sejam crianças, jovens ou adultos. Antes de mais nada, é preciso entender como essa síndrome se manifesta.

O que é a Síndrome de Down?

A síndrome de Down é uma alteração genética, caracterizada pela trissomia do cromossomo 21. Pode parecer complexo, mas há uma explicação científica:

O ser humano costuma ter 46 cromossomos. Esses cromossomos são divididos em pares, sendo 23 provenientes do pai (espermatozoides) e 23 da mãe (óvulo). Juntos, eles formam o zigoto, considerado a primeira das nossas células. Essa célula começa a se dividir, formando um novo organismo. Assim, cada nova célula é, em teoria, uma cópia idêntica da primeira.

Os cromossomos carregam milhares de genes, que são responsáveis por todas as nossas características. Desses cromossomos, 44 são regulares, enquanto os outros dois constituem o par de cromossomos sexuais (presentes no cromossomo 23). No caso das meninas, são chamados XX; enquanto nos meninos denominam-se XY.

Quando o cromossomo 21 apresenta três cópias, ao invés de duas, o indivíduo passa então a ter 47 cromossomos em suas células. Isso acontece porque, no momento da concepção, o óvulo feminino ou o espermatozóide masculino apresentou 24 cromossomos, ou seja, um cromossomo a mais. É esse cromossomo extra que dá nome à síndrome de Down.

A síndrome de Down não é uma doença, bem como o comportamento dos pais não é um fator desencadeador. Essa é uma das ocorrências genéticas mais comuns no mundo, presente em cerca de um a cada 700 nascimentos.

Trissomia do cromossomo 21 (Imagem: Movimento Down)

Tipos de síndrome de Down

Existem 3 tipos principais de síndrome de Down, que estão ligados às características genéticas. Por outro lado, não existe um grau específico para o nível da síndrome (mais leve ou severa, por exemplo), mas algumas semelhanças/diferenças podem ser notadas entre as crianças com Down.

Os tipos de síndrome de Down são:

  • Trissomia 21 simples: o mais conhecido de todos, atinge de 93 a 95% dos casos de síndrome de Down. Nesse tipo, todas as células do indivíduo têm 47 cromossomos.
  • Translocação: é quando o cromossomo extra do par 21 fica aderido a outro cromossomo. Representa de 4 a 6% dos casos.
  • Mosaico: apenas parte das células é afetada pela alteração genética, assim algumas ficam com 47 cromossomos e outras com 46. Os casos são mais raros e atingem de 1 a 3%.

Esporte para pessoas com síndrome de Down

De acordo com o Movimento Down, a estimulação precoce é fundamental para o desenvolvimento das pessoas com síndrome de Down, e deve iniciar ainda nos primeiros anos de vida da criança. Na grande maioria dos casos, o esporte é um aliado importante para promover o fortalecimento muscular e a socialização entre esse público.

Ou seja, além de melhoras na saúde, atividades físicas para pessoas com síndrome de Down também potencializa vantagens psicológicas e sociais. Entre os benefícios, estão: condicionamento cardiorrespiratório, prevenção de obesidade e osteoporose, integração sensorial, conhecimento do próprio corpo, autonomia e desenvolvimento da autoestima.

Natação para pessoas com síndrome de Down: atividade física na água pode ser uma boa escolha (Foto: Ale Cabral/CPB)

Como escolher o melhor esporte para pessoas com síndrome Down?

Pessoas com síndrome de Down podem praticar esportes? A resposta é sim! Mas antes de escolher uma modalidade é preciso estar atento a algumas condições. Nós destacamos alguns passos para você que está pensando na possibilidade ou tem alguém na família que deseja iniciar na prática esportiva:

1. Avaliação médica

Qualquer pessoa antes de iniciar a prática regular de uma atividade física precisa passar por uma avaliação médica. No caso das pessoas com síndrome de Down isso não é diferente: é indicada a realização de exames cardiorrespiratórios e ortopédicos, para averiguar a resistência e as condições de ossos, músculos, juntas e ligamentos, entre outros problemas específicos que devem ser levados em consideração de acordo com a individualidade de cada praticante.

2. Vontade de praticar

Procure descobrir qual é o melhor esporte para criança ou adolescente com síndrome de Down. Antes de fazer qualquer matrícula em clubes ou academias, converse com a pessoa e veja se ela está motivada para a prática esportiva. Além disso, algumas modalidades precisam de habilidades específicas e a pessoa pode não se sentir segura ao desenvolvê-las. Se preciso, leve-a às aulas testes e certifique-se que a atividade é realmente prazerosa.

3. Supervisão no esporte

Não existem esportes proibidos, mas alguns demandam mais atenção e cuidado por conta de características específicas da síndrome de Down. Quando a resistência cardiorrespiratória é menor, por exemplo, práticas desportivas curtas ou com descansos são mais indicadas.

Esportes de contato ou com muita movimentação do pescoço, como o boxe e o rugby, precisam ser bem supervisionados por causa da instabilidade atlanto-axial. Esportes que envolvem corrida também requerem atenção devido à hipotonia, frouxidão dos ligamentos e sobrecarga nas articulações.

É importante que todas as atividades esportivas sejam sempre supervisionadas por profissionais capacitados na área, sejam eles educadores físicos, fisioterapeutas ou médicos. O Movimento Down explica que o profissional responsável deve ficar atento a possíveis alterações ortopédicas, ao mesmo tempo que motiva o aluno dentro de suas potencialidades.

4. Modalidades indicadas

O esporte traz benefícios e diversão para pessoas com síndrome de Down de todas as idades. No caso das crianças, as práticas esportivas são fundamentais porque contribuem para melhorar a postura corporal, orientação espacial, equilíbrio e flexibilidade.

Entre os esportes mais recomendados para pessoas com síndrome de Down estão a ginástica artística, artes marciais, natação e surfe. Todas levam a um bom trabalho físico e muscular. Modalidades em equipe e com animais, como o hipismo, também desenvolvem o senso de colaboração, cooperação, socialização e respeito às regras.

Pessoas com síndrome de Down devem praticar esportes com supervisão (Foto: Cliff Booth/Pexels)

Down e o esporte profissional: uma história em construção

Atletas com síndrome de Down podem participar dos Jogos Parapan-Americanos e tambén dos Jogos Paralímpicos, porém não há uma classe exclusiva para eles. Ou seja, em competições internacionais, eles competem nas classes para pessoas com deficiência intelectual. 

A verdade é que há comprometimentos intelectuais, dificuldades de interpretação e também desvantagens físicas, caracterizadas por músculos mais fracos e movimentos mais lentos, em relação a outros paratletas. Por isso, profissionais da área defendem mudanças nas categorias para alcançar disputas mais justas e equilibradas. O caminho é longo e reacende o debate sobre a “inclusão x segregação”, mas algumas ações já ganham destaque no cenário esportivo.

Em 2016, durante os Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, o Comitê Olímpico Internacional (COI) passou a incluir pessoas com deficiências intelectuais em seu grupo de voluntários. Na oportunidade, cerca de 50 pessoas participaram dos trabalhos de recepção ao público e acompanhamento das equipes de produção.

Mas existe uma competição destinada exclusivamente para atletas com síndrome de Down: a Trisome Games. Como se fosse uma Olimpíada, os primeiros jogos Trisome foram realizados em 2002, no Reino Unido. Desde então, jogos semelhantes foram realizados na África do Sul, Irlanda, Taiwan, Portugal, Itália e Canadá.

Em 2016, a cidade de Florença, na Itália, sediou a última edição dos Trisome Games e reuniu mais de mil atletas de 36 países em nove modalidades. A competição de 2020, programada para ocorrer na Turquia, foi cancelada devido à pandemia do coronavírus.

Competição reúne atletas com síndrome de Down (Divulgação: Trisome Games)

Comitê Paralímpico realiza atividades para atletas com síndrome de Down

Já em 2019, atletas com síndrome de Down tiveram pela primeira vez uma classe exclusiva nas Paralimpíadas Escolares, realizadas pelo Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), em São Paulo. O evento reuniu crianças e adolescentes em idade escolar. Já na competição de 2022, após a pandemia da Covid-19, jovens atletas com Down voltaram a disputar provas e partidas apenas entre si em três modalidades: atletismo, natação e badminton. Na ocasião, o atletismo contou com as classes são T/F21 e, a natação com a classe S21.

Além disso, o CPB conta com atividades para crianças e jovens de 7 a 17 anos com deficiências por meio da Escolinha Paralímpica. O projeto de iniciação esportiva oferece aulas de atletismo, badminton, bocha, esgrima em cadeira de rodas, futebol de cegos, goalball, halterofilismo, judô, natação, tênis de mesa, tiro com arco, triatlo e vôlei sentado. Todas as modalidades compõem o atual programa dos Jogos Paralímpicos, estabelecido pelo Comitê Paralímpico Internacional (IPC).

No Brasil, destaque ainda para a seleção brasileira de futsal down. Em 2022, a equipe conquistou pela segunda vez o Campeonato Mundial de futsal down em Lima, no Peru. O título foi conquistado de forma invicta com cinco vitórias em cinco jogos. A última delas contra a Argentina, por 5 a 1, gols de Júlio (quatro) e Renato Gregório, capitão brasileiro e eleito o melhor jogador da competição. A seleção foi comandada pelo técnico Cleiton Monteiro, que também garantiu seu bicampeonato na carreira (o primeiro foi em 2019).

Você conhece alguma competição esportiva na área? Conhece alguém com síndrome de Down ou tem interesse em saber mais sobre o esporte para essas pessoas? Compartilha sua experiência com a gente nos comentários! (:

Quando comemoramos o dia da pessoa com Down?

O dia 21 de março marca o Dia Internacional da Síndrome de Down, e tem como objetivo promover debates sobre inclusão e ações de visibilidade social às pessoas com Síndrome de Down. As atividades ocorrem no mundo todo desde 2006, e dão destaque aos direitos humanos e ao bem-estar dessas pessoas.

A data, proposta pela Down Syndrome International, foi escolhida devido à escrita numérica 21/03, que faz alusão à trissomia do cromossomo 21. A Organização das Nações Unidas (ONU) oficializou a data, com base na Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Já o Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência é celebrado no dia 21 de setembro.

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